Maranhão registra 3.500 casos de violência contra idoso

17/06/2013 #Administração

Defensoria Pública e Delegacia de Proteção ao Idoso relatam que já foram registrados quase 3500 casos de violência. Maior parte dos casos, partem da família 

Ameaçada de morte pela própria nora, Maria*, de 72 anos, decidiu ir à justiça para denunciar. João*, de 50 anos, tenta conseguir de volta os documentos da mãe, de 72 anos, que estão retidos com o irmão. Ele conta que a mãe sofria maus tratos e avisado por vizinhos, decidiu denunciar o irmão e hoje é quem cuida da mãe. O inquérito foi aberto e o caso já está na Justiça. Raimunda*, de 63 anos, não entende porque o irmão briga e a destrata constantemente, pois, é ela quem o ajuda com os filhos, mantendo financeiramente a casa. Já Zélia*, 72 anos, conta ter pensado em sair de casa, pois não aguenta mais a falta de privacidade e o desrespeito que sofre por parte dos familiares.

São casos denunciados na Delegacia de Proteção ao Idoso (DPI), na capital, que mostram uma triste estatística dos órgãos de defesa desta população. Por dia, pelo menos 20 idosos são vítimas de algum tipo de violência no Maranhão, sendo que aproximadamente 45% dos casos são cometidos pelos próprios familiares, ficando filhos e primeiro lugar. O tipo de violência mais registrado é a negligência, seguido de violência psicológica, abuso financeiro, abandono e agressão física. Os dados são da Defensoria Pública do Estado e da DPI, que juntas, apontaram 3.473 ocorrências contra idosos, sendo 1.834 registrados na Defensoria entre janeiro de 2012 e maio deste ano; e 1.639 da Delegacia, de janeiro a junho.

Na delegacia são registradas a média de 20 ocorrências diárias, de diversos tipos, desde violência doméstica até questões de ordem financeira como apropriação indevida do uso de benefícios. E assim como na Defensoria, os familiares são os agressores mais recorrentes. Outros tipos de violência mais registrados são a psicológica, negligência, abuso financeiro, física, abandono e a autonegligência. Questões de ordem familiar, financeira, choque de gerações e o uso de drogas são algumas das causas da violência contra esta população. Tal violência está relacionada com as desigualdades sociais, econômicas e o empobrecimento da população, segundo aponta Aldy Mello Filho. Ele cita ainda a dependência do agressor em relação ao agredido e o uso de drogas por este autor.

As mulheres sofrem mais violência física, seguida da psicológica; já os homens, são maiores vítimas de negligência, seguido da violência psicológica. A faixa etária dos 60 aos 70 é mais atingida, segundo o relatório da Defensoria Pública. Na lista de agressores estão, além dos filhos, parentes seguidos de netos, funcionários de instituições, companheiros, vizinhos e pessoas que não têm convivência com o idoso. “O fator idade é visto como peso pela população e a mudança de mentalidade é o caminho para diminuir os registros deste tipo de violência”, avalia o defensor Aldy Mello.

Os números podem ser muito maiores, segundo o defensor público geral do Estado, Aldy Mello Filho. “Nem toda a violência cometida contra o idoso é registrada como tal. Há uma subnotificação dos casos”, ressaltou. A delegada aponta ainda que a violência dentro da família ocorre pela falta de estrutura psicológica no tratamento com o idoso. “As pessoas não estão preparadas para o envelhecimento do ente querido”, avalia a delegada titular da DPI, Rosa Maria Castro Campos. Ela concorda com a Defensoria que, não só as denúncias, mas a violência contra o idoso cresceu.

Para o defensor, há a necessidade em se discutir ações de enfrentamento à violência contra o idoso e do trabalho em conjunto dos diversos órgãos de proteção. “As pessoas devem ver o envelhecimento como um processo natural, como mais uma etapa da vida e não como um problema”, disse. Essa conscientização, segundo ele, se daria com orientação familiar, ações educativas e qualificação de profissionais da saúde. Este último, com o papel de identificar e notificar as situações de violência que chegam, a fim de diminuir a subnotificação.

*Nomes fictícios utilizados para preservar a identidade dos personagens da reportagem


Apoio
Para atender a esta população, a Defensoria conta com o Núcleo do Idoso, que orienta e acompanha juridicamente; e o Ciapvi, onde a pessoa idosa recebe acompanhamento psicológico e é encaminhado aos órgãos de atenção. Em casos de agressões físicas, por exemplo, o encaminhamento é feito à Delegacia do Idoso. Em caso de denúncia de empréstimo indevido ou necessidade de atendimento hospitalar, a Defensoria entra com ação judicial; em caso do uso indevido de benefício por membros da família, é feita a mediação para dirimir o assunto.

“O objetivo não é retirar o idoso do seu lar, mas restaurar a harmonia na família”, explica. “É um trabalho que precisa ser conjunto, incluindo todos os instrumentos de defesa para atender a pessoa idosa vítima”, destaca o defensor geral do Estado. A Promotoria do Idoso do Ministério Público, na sede das promotorias, Cohama; o Conselho do Idoso, no Centro; o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), que faz o acompanhamento dos casos e averigua as denúncias; e o Disque Denúncia: 3223.5800, são outros órgãos de ajuda.

Fonte:  Jornal Imparcial

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