Moradores da Vila Cristalina protestaram contra poeira e outros problemas gerados pelas obras para construção do Shopping da Ilha, no Maranhão Novo
AGENOR BARBOSA*
Interdição do trânsito na Avenida Daniel de La Touche e passeata pela Rua Principal da Vila Cristalina foram os meios encontrados pelos moradores da região para reclamar dos problemas enfrentados com a construção do Shopping da Ilha, no Maranhão Novo. Os manifestantes interromperam o tráfego por volta das 7h de ontem e quase uma hora depois iniciaram a caminhada no local mobilizando dezenas de pessoas.
O esforço dos manifestantes conseguiu reunir representantes da empresa responsável pelas obras Construtora Sá Cavalcante, ONG Moradia Popular, Defensoria Pública do Estado (DPE) e Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão (OAB/MA). Eles decidiram se reunir no próximo dia 30 com membros da comunidade na sede da DPE, no Centro Histórico, para definir soluções para os problemas.
Os dois principais focos das reclamações são a poeira resultante das obras que tem invadido as casas dos moradores e a preocupação com o meio ambiente. “Nesse mangue nos encontrávamos caranguejos, sururu e hoje está difícil depois que iniciaram as obras. Muita terra foi arrastada para o rio destruindo as nascentes. Este é um patrimônio nosso, temos que cuidar do rio e das nossas casas”, contou o estudante Carlos Wanderson dos Santos, 21.
A presidente da Associação de Moradores, Isabel Pinheiro, informou que alguns poços que existiam na frente das casas foram tampados com o os serviços para a construção de uma pista no local. O serviço de terraplanagem também gerou a revolta dos moradores com a diferença de nível entre as casas e o solo. Em alguns lugares a saída da casa está quase 50cm acima do que seria o chão e em outros abaixo como se fosse um buraco.
O membro da CDH da OAB/MA, Rafael Silva, explicou que também foram detectados problemas de rachadura nas casas e que para reduzir os efeitos da poeira da construção é necessário que a via seja asfaltada e que seja observado o serviço de drenagem para que as residências não sofram com inundações. “Esta é uma comunidade consolidada que tem décadas aqui e estão sofrendo impactos negativos que não tinham antes da obra. Precisamos encontrar uma solução”, destacou.
Ele também informou que cabe à prefeitura de São Luís analisar o estudo de impacto de vizinhança da obra e, por isso, representantes do município serão convidados para falar sobre o resultado dessa análise e sobre a regularização fundiária da área. “Existem instrumentos na Constituição para regularizar a titularização das casas devido à forma como as pessoas convivem com o meio ambiente”, explicou.
A reportagem de O Imparcial entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura, mas até o fechamento desta edição o órgão não enviou um posicionamento sobre a regularização fundiária das casas ou sobre a análise do estudo de impacto de vizinhança da obra.
Reivindicações começaram a ser atendidas em uma semana
O gerente administrativo da Construtora Sá Cavalcante, Wilson Monteiro, e o engenheiro Pedro Tavares acompanharam a mobilização dos moradores ao lado do advogado do CDH da OAB/MA, Rafael Silva, e do defensor público do Núcleo de Moradia, Alberto Guilherme Tavares. Os representantes da construtora fizeram anotações sobre os pontos reivindicados pelos moradores e informaram que a partir da próxima semana começam a ser providenciadas melhorias para a população local.
O gerente da Sá Cavalcanti destacou que as prioridades são resolver os problemas como a falta de água, erosão das casas, falta de acessibilidade por conta da diferença na entrada das casas. “Vamos enviar mais carros pipas para molhar o chão e diminuir os problemas com a poeira e também para abastecer as casas. Faremos todos os esforços que forem necessários, os moradores são vizinhos do empreendimento e é importante termos um bom relacionamento”, relatou.
Wilson Monteiro disse ainda que a empresa designou um gerente para tratar do diálogo com a comunidade com o objetivo, justamente, de atender as demandas que surgirem. O engenheiro Pedro Tavares contou que as questões levantadas pela comunidade serão analisadas caso a caso para definir o que será feito. Ele lembrou que no projeto de construção do Shopping está prevista a urbanização da área que trará benefícios aos moradores.
PERSONAGEM DA NOTÍCIA
Desnível é dificuldade para idosa
A doméstica Elza Martins dos Santos, 66, enfrenta dificuldades com a diferença entre a entrada da residência e o solo. Ela lembra que antes das obras, o nível era praticamente o mesmo e agora precisa improvisar para entrar em casa. A dificuldade que atinge dona Elza é maior porque ela possui problemas de osteoporose e osteopenia. “Já coloquei uns tijolos aqui na frente, mas sempre as máquinas que passam levam tudo”, disse.
O perigo é maior quando chove e o barro vira lama deixando tudo liso. Sem contar que para evitar a lama grudada nos pés, é preciso sair levando um balde com água para limpa-los na parada de ônibus. Contudo, mesmo nos dias de Sol, a moradora se arrisca andando pela beirada que foi mantida na frente das casas. Ela sobe essa espécie de calçada na parte mais baixa da rua e passa por três a quatro casas até chegar à residência dela.
Elza lembra que chegou ao local há 30 anos, na época da fundação da Vila Cristalina, e que havia um banquinho para as pessoas se reunirem. Assim como os demais moradores, a idosa considera o local como um patrimônio e espera que as relações entre a empresa, que está construindo o shopping, e a comunidade possam preservar esse ambiente. “Queremos que olhem pela nossa comunidade”, pediu.
*Da equipe de O Imparcial
Fonte: O Imparcial
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