A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 487/05, do
ex-deputado Roberto Freire e que trata das atribuições da Defensoria
Pública, está de volta à pauta da Câmara. A discussão tem sido adiada a
pedido do governo por conter pontos polêmicos, mas, durante a reunião
de líderes realizada na semana passada, foi colocada como prioridade.
Entre as mudanças, o projeto prevê que os defensores só possam perder o
cargo após decisão judicial transitada em julgado.
A
Defensoria Pública é o órgão encarregado de prestar, gratuitamente,
assistência jurídica integral às pessoas carentes. Pela lei, é dever do
Estado a defesa dos cidadãos que não possuem condições econômicas para
pagar um advogado. Segundo dados da Associação Nacional de Defensores
Públicos (Anadep), cerca de 80% da população brasileira necessita da
ajuda dos defensores.
A PEC faz um detalhamento da autonomia
administrativa, funcional e financeira que as defensorias públicas dos
estados conseguiram com a Emenda Constitucional 45/2004, a da reforma
do judiciário. Com a proposta, serão definidas questões institucionais
como a eleição do defensor público-geral da União e as garantias dadas
aos defensores. Entre elas, a vitaliciedade após três anos no cargo.
Com isso, a Defensoria Pública da União (DPU) e a Defensoria Pública do
Distrito Federal, que não haviam sido atingidas pela reforma do
judiciário como as defensorias públicas dos estados, passariam a ter
funcionamento semelhante ao do Ministério Público.
Com a
PEC, a Defensoria Pública poderia propor a criação, extinção e
remuneração de seus cargos diretamente ao Legislativo. Atualmente, a
criação de cargos de defensores públicos precisa, obrigatoriamente,
passar pelo Executivo antes de chegar ao Legislativo, permitindo ao
governo filtrar as propostas da Defensoria.
Além disso, a
PEC também propõe que as comarcas com menor Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) tenham prioridade na alocação de defensores públicos.
Impasse
Para acirrar ainda mais o debate, apensada à proposta original,
relatada pelo deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), está uma proposta
alternativa apresentada pelo governo. A PEC 144/2007, apresentada pelo
Executivo no último dia 28, retira justamente a iniciativa de lei e a
autonomia da DPU.
O relator da PEC 487/2005, deputado Nelson
Pellegrino, é contra as alterações do governo. Para ele, a iniciativa
de lei é essencial para garantir a real autonomia da defensoria
pública. “Como relator da proposta, vou tentar sensibilizar o Executivo
para conseguir um acordo”, garante Pellegrino.
O presidente
da Anadep, Fernando Calmon, concorda com o relator. Segundo ele,
existem atualmente 5 mil defensores públicos nos estados, sendo que o
ideal seriam 11 mil. A criação desses novos cargos é dificultada pela
falta da iniciativa de lei. “O Executivo tem suas prioridades, o que
dificulta o recrutamento desses defensores. Se a defensoria pudesse
enviar suas propostas diretamente ao Legislativo, o processo se
tornaria mais ágil”, explica Calmon.
A diferença de
autonomia entre a DPU a as defensorias dos estados e do DF também é
considerada uma incoerência por Calmon. “É estranho conter no corpo de
uma Constituição dois comandos distintos para conceituar o mesmo
instituto. Ao permanecer assim, passa a norma constitucional a conter
uma direção dúbia”.
Tanto Calmon quanto Pellegrino concordam
que a chance de a proposta ser aprovada é grande, pois, apesar de ter a
resistência do governo, ela possui a simpatia dos líderes da Casa e de
outros parlamentares.
Prós e contras
O deputado
Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) é um dos aliados da PEC 487/05. “Acredito que
é enorme a sensibilidade dos parlamentares – principalmente daqueles
que, como eu, são advogados – em relação aos defensores públicos”. Ele
discorda da PEC 144/07, que retira a iniciativa de lei da proposta
original. “Isso mostra que o governo não faz aquilo que ele propaga,
que ele divulga. Cuidar das pessoas mais pobres não se restringe à
Bolsa Família, é preciso criar outros meios também”, afirma Abi-Ackel.
Já o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) é contra a proposta. Para
ele, o aumento de comarcas da defensoria pública é um aumento de
despesas absurdo, com o qual o país não tem condições de arcar. Aleluia
pensa que é impossível defender apenas uma classe, sendo que isso vai
trazer prejuízos a todo o resto da população.
Semelhanças nas propostas
Para justificar a PEC 144/2007, o governo apresenta um estudo feito
pela Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep) chamado
"Estudo Diagnóstico da Defensoria Pública". A pesquisa constatou que as
defensorias atendem a apenas 42% das comarcas brasileiras e os estados
que menos investem nas defensorias são os que apresentam os piores
indicadores sociais - e que mais necessitariam dos serviços da
instituição.
O diagnóstico demonstra que tanto maior é a
realização de convênios, forma de terceirização do serviço de
assistência judicial, quanto menor é a presença da Defensoria Pública
nas comarcas. Por isso, o governo pede a redução dessa terceirização e
concorda que as comarcas com menor IDH tenham prioridade na alocação
dos defensores.
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